domingo, 4 de fevereiro de 2018

Walter Scott e o desencanto da astrologia

O célebre escritor escocês Walter Scott (1771-1832), criador do romance histórico, planejava escrever uma história cujo herói deveria ser um astrólogo, mas renunciou ao projeto depois de concluir que a astrologia já não tinha influência suficiente sobre os espíritos em geral nem mesmo para constituir o tema de um romance. 

Texto de Bira Câmara

É uma pena que tenha desistido da idéia, pois tinha à mão todos os elementos para escrever uma grande história, como podemos vislumbrar pelo seu poema The Lay of the Last Minstrel (“A Canção do Último Trovador”), inspirado na figura fascinante do monge astrólogo/feiticeiro Michael Scott. Nesta obra, ele evoca a lenda segundo a qual os livros mágicos de Scott foram enterrados com o astrólogo, no sepulcro da abadia do con­vento onde morreu. A lenda conta também que estes livros não poderiam ser abertos sem perigo, por causa dos demônios malignos que seriam invocados pelo seu manuseio. Já outro romance de Scott, Guy Mannering, tem como subtítulo “O Astrólogo” e usa como ponto de partida uma predição astrológica.

Aparentemente o seu conhecimento do assunto não ultrapassava os limites impostos pelos preconceitos da época e o lado anedótico, como ele demonstra na décima carta da obra Letters on Demonology and Witchcraft. Neste capítulo algumas páginas são dedicadas à astrologia e ele justifica a referência a essa “dama desonrada” num tratado sobre demonologia, “porque os astrólogos sempre pretenderam manter relação com os espíritos elementais, segundo os princípios da filosofia Rosacruciana, embora neguem fazer uso da magia negra ou da necromancia”. Scott faz menção ao Dr. Forman, a William Lilly e a John Dee, “um matemático excelente, arruinado em fortuna e reputação pelo seu sócio, o médium Kelly”. 

Aparentemente as pesquisas de Scott na área astrológica se limitaram aos astrólogos dos séculos dezesseis e dezessete. Ele cita a autobiografia de Lilly e a descrição pouco lisongeira feita por ele aos astrólogos contemporâneos que teve a oportunidade de conhecer. Nas palavras do próprio Lilly, seus colegas eram “quase sem exceção libertinos, indignos, velhacos, embusteiros, entregues ao vício, e impondo-se pelas fraudes mais grosseiras aos tolos incautos que os consultavam”. 

Sobre a atuação dos astrólogos durante a guerra civil na Inglaterra, observa que eles abraçaram lados diferentes, o rei de um lado e o Parlamento do outro, ambos igualmente curiosos para saber o que Lilly, Wharton, ou Gadbury tinham descoberto nas estrelas com relação a quem iria sair vencedor da disputa. 

Outro astrólogo mencionado por Scott é um certo Dr. Lamb, médico e astrólogo da mesma espécie de Forman, patrocinado pelo duque de Buckingham (que também, como tantos outros poderosos era adepto da astrologia), que foi linchado em Londres pela multidão enfurecida, e sua criada enforcada como bruxa em Salisbury treze anos depois.

Lamentando o envolvimento de filósofos e pensadores do porte de Francis Bacon com uma superstição tão desarrazoada, a conclusão de Scott sobre o assunto é mordaz: “os astrólogos do século dezessete não se limitaram às estrelas. Não houve nenhum campo da fraude que eles não exploraram; participavam de escândalos como alcoviteiros e, no papel de curandeiros, vendiam poções para os fins mais escabrosos”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A ASTRÓLOGA QUE PREVIU A ASCENSÃO DE HITLER

  Elsbeth Ebertin, (1880-1944), astróloga alemã nascida em Munique, ficou célebre em 1923 depois de ter publicado o seu almanaque anual de p...