O imperador romano Tibério não só consultava astrólogos, como também sabia fazer e interpretar horóscopos com grande perspicácia. Teve a seu serviço Trasilo, célebre astrólogo da época. Sua mãe, como era hábito entre os antigos romanos, consultou o adivinho Escribonius, antes mesmo dele nascer, e ouviu a profecia do futuro brilhante que estava reservado ao seu filho.
Texto de Bira Câmara
Tibério tinha fama de ser astrólogo perspicaz, como o demonstra um episódio narrado por Tácito. O imperador chamou Sérvius Galba para um colóquio e depois de o sondar sobre diversos assuntos disse-lhe, em grego: “Tu também, Galba, um dia experimentarás o império”, anunciando o poder tardio e breve de Galba, graças ao seu conhecimento da arte dos caldeus. Só não o condenou à morte porque sabia que ele alcançaria esta posição em idade avançada e, portanto, não se constituía ameaça para ele.
| Vista do palácio imperial de Tibério, na ilha de Capri (hoje em ruínas), onde o imperador residiu por mais de onze anos de seu reinado. |
| Salto Tibério, em Capri, o despenhadeiro de onde o imperador despachava os astrólogos incompetentes |
Trasilo
O nome completo de Trasilo era Tiberius Claudius Trasilo (século I a.C.-36 d.C.) e, além de astrólogo, foi também gramático da língua grega. Supõe-se que ele era um egípcio de língua grega, oriundo de Mende (Egito), enquanto outras fontes alegam que seria originário da Alexandria, mas não há provas que confirmem esta informação.
Também é possível que Tibério Cláudio Trasilo, o astrólogo do imperador Tibério citado nos Anais de Tácito e nas Vidas dos Césares de Suetônio, seja outra pessoa que não o gramático de Mende. Enquanto Trasilo de Mende foi um gramático alexandrino, editor das obras de Platão e de Demócrito, Tiberius Claudius Trasilo é mais conhecido como o astrólogo pessoal de Tibério.
Trasilo conheceu o futuro imperador, ainda não designado herdeiro de Augusto, na ilha grega de Rodes, onde ele estava no exílio. Aqui, Trasilo previu que ele logo seria chamado a Roma, para ser formalmente nomeado herdeiro do trono, e depois ficou ao seu lado durante os anos de reinado (14-37 d.C.). Também obteve a cidadania romana para si e sua esposa, Aka II de Commagene (que era, provavelmente, descendente do rei Antíoco Theos de Commagene, e então princesa).
A filha de Tibério, Claudia Livilla, consultou-o quando teve um caso com o prefeito pretoriano Lucius Aelius Sejanus. Foi Trasilo que convenceu o imperador a deixar Roma para morar em Capri, apoiando clandestinamente Sejanus. Foi então que o genro de Trasilo, Nevio Sutorius Macro, obedeceu à ordem de liquidar o prefeito (em 31 d.C.), embora não esteja claro se Trasilo tomou parte nisso. Assim, permaneceu com Tibério em Capri, aconselhando-o na escolha entre os vários pretendentes à sucessão, e, em particular apoiando Calígula, sobrinho do imperador, com quem sua filha Eunia teve um relacionamento conturbado.
Ao mentir, quando previu a Tibério uma vida longa, salvou assim a vida de muitos nobres romanos suspeitos, erroneamente, de conspirar contra o imperador, que confiava totalmente nas suas previsões. Tibério estava confiante de que escaparia a qualquer conspiração, e, portanto, não tentou enfrentá-los. Mas o astrólogo, protegido do imperador, não viveu para ver concretizada sua previsão sobre a sucessão de Calígula (37 dC.).
Trasilo escreveu um tratado astrológico perdido, mas parafraseado em fontes posteriores, e que empresta conceitos tomados de Nechepso/Petosiris e de Hermes Trimegisto, supostamente as primeiras fontes da astrologia. É citado por Vétius Valens, Porfírio e Heféstion.
Com Aka II, Trasilo teve dois filhos: um filho, Tiberius Claudius Balbillo, que herdou seu conhecimento da astrologia e exerceu o cargo de astrólogo dos sucessores de Tibério, servindo a Nero (54-68) e a Vespasiano (69-79), e uma filha, Eunia, que se casou com o prefeito pretoriano Macro Naevius Sutorius. Através de seu filho, se tornou o avô de Cláudia Capitolina, futura esposa do príncipe grego Gaius Julius Arquelau Antíoco Epífanes, herdeiro do trono de Commagene. Tiveram como filhos (netos de Trasilo) o príncipe Gaius Julius Antíoco Epífanes Philopappos e a princesa Julia Balbilla.
Nascido em 42 a.C., Tibério reinou de 14 a 37 e ficou célebre pela extrema desconfiança e pelas maiores crueldades. Foi um dos maiores generais de Roma e, nas suas campanhas na Panônia, Ilíria, Récia e Germânia, assentou a fronteira norte do Império. Contudo, Tibério chegou a ser recordado como um obscuro, recluso e sombrio governante, que realmente nunca quis ser imperador; Plínio, o Velho chamou-o de "tristissimus hominum" ("o mais triste dos homens"). Após a morte de seu filho, Júlio César Druso em 23, a qualidade do seu governo declinou e o seu reinado terminou em terror. Em 26 Tibério auto-exilou-se em Capri e deixou a administração nas mãos dos seus dois prefeitos pretorianos Lúcio Élio Sejano e Quinto Névio Cordo Sutório Macro. Tibério adotou o seu neto Calígula para que o sucedesse no trono imperial.
Sob o seu reinado o Senado baniu de Roma os mágicos e os astrólogos. Um deles, chamado Pituanius, foi jogado da rocha Tarpéia, no Capitólio; outro, Martius, foi conduzido para fora da porta Esquilina e, depois que soaram as trombetas, executado conforme o costume antigo: amarrado a um poste, espancado com varas e depois decapitado.
Bibliografia:
A. Bouché-Leclercq, L´Astrologie dans le monde romain, Paris, 1897
Suetônio, A Vida dos Doze Cézares, Athena Editora, 1937
Tácito, Anais, W. M. Jackson Inc. Ed., 1977
Suetônio, A Vida dos Doze Cézares, Athena Editora, 1937
Tácito, Anais, W. M. Jackson Inc. Ed., 1977
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