quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Sirius, a estrela dos reis e morada dos deuses - I

Sirius é a maior e mais brilhante estrela nos céus, uma estrela binária, branca e amarela, situada na boca do cão maior (Canis Major). Na mitologia, Sirius tinha um papel importante e o simbolismo de Canis Major e seu brilho remonta pelo menos ao 3º milênio a. C.

Texto de Bira Câmara

Na astrologia e na poesia antigas há muitas referências às influências maléficas de Sirius: seu brilho era considerado sinal de augúrio maléfico para o homem mortal e também prenúncio de febres, pestilências e morte. “Quando sobe, a estrela do cão da constelação ardente traz seca e doenças mortais, e entristece o céu com sua luz desfavorável...” Mas esta fama odiosa da Estrela do Cão pode ter surgido por causa da péssima reputação do cachorro no Oriente, onde é visto como acirrado comedor de carniça e não tem o apreço que os cães gozam atualmente nos lares do Ocidente. 


Entre os egípcios, Sirius tinha uma importância de primeira grandeza: moradia do deus Horus e símbolo do Grande Fogo Central para o nosso Sol. Também a chamavam de Estrela de Isis ou a Estrela do Nilo. Há 5.000 anos atrás, por volta de 25 de junho, Sirius se levantava ao amanhecer antes do Sol, e coincidia com o início da cheia do Rio Nilo em torno do qual toda a vida egípcia dependia, para a fertilidade de suas terras. Foram os sacerdotes egípcios, organizadores do calendário, que observaram a primeira ascensão de Sirius. 

No antigo templo de Isis-Hathor em Denderah, havia uma bela estátua de Isis, erguida no fim de um corredor flanqueado por grandes colunas. A estátua era orientada para o levante de Sirius e os sacerdotes colocavam uma jóia na fronte da deusa, de forma que a luz da estrela se refletisse na pedra preciosa naquela ocasião. Então, anunciavam ao povo que o Ano Novo tinha começado. Este levante é mencionado em muitas inscrições do templo, onde a estrela era identificada com a alma de Isis. Uma destas inscrições proclama: “Sua Majestade Isis brilha dentro do templo no Dia de Ano Novo, e mistura a sua luz no horizonte com luz do seu pai Ra.” (Ra era o deus do sol egípcio.) 


Uma das aberturas da pirâmide era orientada para que a luz de Sirius 
penetrasse na câmara central

Em 3.285 a.C. Sirius substituiu Draconis como a estrela que assinalava o Solstício de Verão e o começo do Ano Novo egípcio. A estrela era especialmente usada como um ponto de orientação em Tebas e identificada com Isis. O Templo de Isis-Hathor, construído em 700 a.C. é orientado para Sirius pela abertura norte da passagem central. Na parede do templo há um mapa do zodíaco que mostra a estrela. O período de tempo em que Sirius desaparece do céu é representado na mitologia egípcia pelo desaparecimento da deusa Ísis, que se esconde até o nascimento do seu filho, Horus, quando então volta a aparecer. 

Este evento astronômico, chamado de ascensão heliacal de Sirius, acontecia no mês de Thoth, perto do solstício de Verão e na época da inundação do Nilo.  Por isso, Sothis  –  Sirius Thoth – era o Deus do Tempo, entre os egípcios.

Estrela do Cão

O período de 3 de julho a 11 de agosto, quando a Estrela do Cão, Sirius, se levantava no oriente em conjunção com o Sol, era chamado de “dias de cão”. Acreditava-se que a combinação do astro mais luminoso do dia (o Sol) com a estrela mais luminosa da noite (Sirius) era responsável pelo calor extremo que é experimentado durante o meio do verão. Daí o termo canícula, para designar dias de muito calor. 

Entre os gregos a estrela tinha péssima fama. Segundo Hesíodo, “quando ela aparece no crepúsculo matutino a pele do homem fica abrasada pelo calor excessivo e, pelo mesmo motivo, provoca a raiva nos cães”. Essa raiva acabou sendo assimilada ao astro que produzia tão terríveis efeitos, ao próprio cão raivoso, e em conseqüência o nome deste animal ficou ligado ao da constelação. Para conjurar os males da canícula, os gregos invocavam o herói Aristeu.

A região onde se pedia com mais insistência a proteção divina contra as terríveis influências de Sirius era nas ilhas Cíclades, por causa da peste e da fome que faziam grandes estragos. Foi ali que Aristeu ofereceu sacrifícios a Sirius, no alto das montanhas, e levantou um altar a Júpiter. Piedosamente, o deus fez soprar no arquipélago um zéfiro restaurador durante 40 dias. A partir de então, os sacerdotes de Ceos ofereciam anualmente sacrifícios expiatórios antes da aparição da constelação do Cão. As moedas desta ilha traziam a cabeça de Aristeu e a imagem de Sirius na figura do cão coroa­do de raios, em lembrança daqueles ardores caniculares.

A palavra árabe Al Shi’ra se assemelha ao nome grego (Seírios), ao latino (Sirius) e egípcio (Sothis) da estrela, sugerindo uma origem comum com o Sânskrito, onde o nome Surya, o Deus Sol, significa simplesmente “o brilho único”. 

Durante 35 dias antes e 35 dias depois da conjunção com o Sol, no dia 4 de julho, a estrela Sirius era eclipsada pelo clarão do Sol. Os antigos egípcios se recusavam a enterrar seus mortos durante estes 70 dias em que Sirius permanecia escondida, porque acreditavam que a estrela era o portal para a vida após a morte e que ficava fechado durante este período do ano.   

O cão Sirius é um dos guardas do Céu, fixado na ponte da Via Láctea e guardando o abismo da encarnação. A estrela do Cão é um símbolo de poder, força e firmeza de propósito, e exemplifica aquele que obteve sucesso atravessando a mais baixa e a mais alta consciência. Os chineses chamavam este lugar como a ponte entre o céu e o inferno, a ponte do juiz, onde as experiências da personalidade são avaliadas.

A associação de Sirius com um cachorro celestial era comum na antiguidade clássica. Até mesmo na China antiga a estrela foi reconhecida como um lobo divino. Na antiga Caldeia (atualmente Iraque) a estrela ficou conhecida como a “Estrela do Cão que Conduz”, ou simplesmente a “Estrela do Cachorro” e tanto na Assíria como na Akkadia, o “Cachorro do Sol”.   

Fontes:

Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura, Ed. Verbo, Lisboa, 1984

Encyclopaedia Universalis, Éditeur À Paris, 1990

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Ed. Enc. Ltda.

Jean-Michel Angebert, “Os Filhos Místicos do Sol”, Difel, 1976

Marcus Manillius, “Os Astrológicos, ou a Ciência Sagrada dos Céu”, Ed. Artenova S.A., 1974

Mircéa Eliade, Hist. das Crenças e Idéias Religiosas, Tomo II, vol. 2.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, “O Livro de Ouro do Universo”, Ediouro, 6a. Ed.

Rudolf Thiel, “E a Luz se Fez”, Ed. Melhoramentos

Ruth Guimarães, “Dicionário de Mitologia Grega”, Cultrix, 1995


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