terça-feira, 21 de outubro de 2008

O astrólogo de Perón

Mesmo considerada uma atividade marginal e desacreditada no século vinte, ainda assim a astrologia continuou a seduzir os gover­nantes. No Brasil, sabe-se que Getúlio Var­gas era cliente de Demétrio de Toledo, que havia sido cônsul brasileiro em Paris e estudado com o as­trólogo Don Neroman. Autor do livro “Eis a Astrologia”, pu­blicado em 1943, formou e ensinou astrólogos, além de ministrar curso de Astrologia por correspondência e editar a revista Sombra e Luz, entre 1934 e 1937. Na Argentina, o astrólogo Lopes Rega, de triste memória, foi secretário particular de Perón e tornou-se até ministro de Estado...



José Lopez Rega, astrólogo argentino, nasceu em 17 de outubro de 1916 e morreu em 9 de junho de 1989 em Buenos Aires. Autor de um volumoso livro intitulado “Astrologia Esotérica”, foi secretário particular do ditador Perón durante seu último exílio na Espanha e voltou para a Argentina com ele em 1973. Uma de suas incumbências nesta função era levantar horóscopos para orientá-lo nas suas decisões. Teve grande influência na volta do velho político ao poder e chegou a ser guindado ao cargo de ministro do Bem Estar Social. Seus inimigos o chamavam de “Rasputin argentino” e a imprensa deu-lhe o cognome “El Brujo”. Rega ostentava o titulo de “doutor em astrologia”, que seus adversários diziam ser falso.

Perón conheceu Rega no Panamá, ao fazer uma peregrinação por vários países latino-americanos depois de ter sido derrubado em 1955 por um golpe militar. Foi o astrólogo que o apresentou a Isabelita – Maria Estela Martínez –, uma cantora e bailarina de cabaré 30 anos mais nova que ele. Isabelita tornou-se a secretária do presidente, até casar-se com Perón em Madrid, no ano de 1961. A influência do astrólogo sobre o casal era muito grande. Nesta época Perón atraía um grupo heterogêneo de seguidores, incluindo desde jovens esquerdistas bem intencionados, até delinqüentes e assassinos da extrema direita.

Além de tornar-se ministro, Rega acumulou também o cargo de Comissário de Polícia, postos que lhe outorgavam um poder muito amplo. Foi graças ao seu trabalho de bastidor que Isabelita foi nomeada para a vice-presidência, e, quando ela chegou à presidência em 1974 depois da morte do marido, seu poder aumentou ainda mais, incluindo a coordenação de todas as secretarias subordinadas à presidência. Em setembro de 1974, López Rega montou o Gabinete composto de seus principais aliados e pôs em prática um projeto de governo que resultou em estranha combinação de nacionalismo de ultra-direita com pitadas de liberalismo ortodoxo na política interna e perfil terceiro-mundista pró-árabe (e anti-semita) na política exterior.

Na primavera de 1975, com a inflação em alta e os preços descontrolados, sob o constante ataque da esquerda peronista, que o denunciava como fascista, López Rega foi acusado pelo Congresso Peronista deste ano de ter instigado a criação da Aliança Anticomunista Argentina (também conhecida como a Tríplice A), um dos primeiros esquadrões da morte que se formou na Argentina nos anos 70. Com efeito, Rega ditava ordens diárias de expulsão a deputados, atores, jornalistas e cantores suspeitos de professar o “marxismo-judaico”, eliminando inimigos à esquerda. Conta-se que ele passeava de madrugada pelos jardins da residência oficial da presidência com o fardão de general de Perón. Mas, suas bruxarias não impediram o golpe militar contra Isabelita.

Em 11 de Julho de 75, renunciou e viajou para a Espanha logo depois de ter sido designado apres­sadamente embaixador extraordinário por Isabel Perón. Depois que ela foi derrubada pelos militares em 1976, Rega passou dez anos fugindo da justiça. Em 1986 foi preso nos Estados Unidos e extraditado para a Argentina, onde morreu enquanto esperava o julgamento.


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