A Idade Média é considerada como a fase áurea da astrologia, quando a doutrina astrológica penetrou até no Vaticano e vários papas como Silvestre II, se interessaram pela astrologia. Assim, não é de se estranhar que no final do século X, este pontífice cultivasse não só a astrologia como a alquimia e em sua casa podia ser vista uma estampa astrológica reproduzindo o sistema planetário descrito por Ptolomeu e que dominaria o Ocidente por muito tempo: a Terra no centro do Universo, rodeada por nove esferas concêntricas, representando planetas e constelações.
A velha doutrina do homem como um microcosmo, réplica do macrocosmo, imagem do Universo, dominava as mentes da época. Santa Hildegarde de Birgen (1098-1173), célebre mística dizia: “O homem tem em si o céu e a terra”. Outras figuras importantes como São Boaventura (1221-1274) faziam ressalvas à astrologia: para ele toda a Natureza é símbolo, representação de Deus, incluindo a astrologia. Muitos padres cristãos praticaram abertamente o ofício de astrólogo, como o monge agostiniano flamengo Lutber Hautschild (1347-1417). Conselheiro do duque Jean Berry e do duque de Borgonha, fez invejável carreira como astrólogo. Não só era perito na elaboração de horóscopos, como construiu um modelo animado do zodíaco com os planetas, movimentado por um sofisticado mecanismo de relojoaria.
Durante a renascença a astrologia gozou de grande prestígio entre os padres. Vários papas não só consultaram astrólogos, como se dedicaram ativamente à ciência dos astros. Portanto, foram inúteis todos os éditos e bulas condenatórias à astrologia, da mesma forma como os éditos promulgados pelos imperadores romanos, desde Tibério, contra a “ciência das matemáticas”.
Sisto IX e Júlio II foram astrólogos. Este último ficou conhecido por ter consultado um astrólogo para escolher a data mais propícia para sua coroação. Já Bonifácio VIII teve como médico particular o astrólogo e alquimista Arnauld de Villeneuve. Leão X (João de Médicis, papa de 1513 a 1521), que o sucedeu levou um grupo de astrólogos para o Vaticano com a missão de aconselhá-lo durante o seu reinado.
"Astrologia", detalhe do monumento a Sisto IV, em Roma, Museu de S. Pedro |
Os papas também eram alvo frequente das predições dos astrólogos: Ambrogio Varese da Rosate, astrólogo de Ludovico, o Mouro, predisse morte a Inocêncio VIII (1484 a 1492), que aconteceu poucos dias depois.
Bonifácio VIII teve como médico particular o astrólogo e alquimista Arnauld de Villeneuve |
Paulo III (1468-1549), o primeiro papa da Contra-Reforma, confiou frequentemente na ajuda astrológica e consultava os astros para determinar as horas para o seu consistório. Sua ascenção ao trono de Roma foi predita pelo astrólogo Lucas Gauric, agraciado por isso com o bispado de Giffoni em 1539. Depois Gauric, comissionado pelo Papa, escolheu o momento mais propício para por a pedra inaugural da igreja de São Pedro na “terceira restauração da cidade”.
Urbano VIII (1568-1644), autor de uma bula condenando alguns aspectos da astrologia, protegeu astrólogos que o auxiliavam nas suas intrigas políticas. Acolheu Morin em Roma e salvou Campanella da prisão, para que traçasse horóscopos e o aconselhasse na sua briga com os Bórgia. Também Leão III, Honório III e Urbano V foram amigos ou protetores de astrólogos.
No século XVI houve várias condenações à astrologia por parte das autoridades romanas. No ano de 1563, a comissão do Index Librorum Proibitorum proibiu na sua totalidade os livros de magia, feitiçaria e das diversas artes divinatórias. Apesar disso, muitas obras de astrologia foram publicadas depois com a aprovação das autoridades eclesiásticas e os padres e religiosos também não foramimpedidos de cultivar a astrologia. Em 1586, o papa SixtoV condenou os astrólogos na bula Constitutio Coeli et Terrae também no mesmo ano o papa Urbano VIII, na bula Constitutio Inscrutabilis, renovaria esta condenação. Mesmo assim, não se seguiu nenhuma medida efetiva de coação da Igreja contra os astrólogos pelo exercício desta atividade.
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