No Libro de buen amor (1330 y 1343), um clássico da literatura espanhola medieval, o seu autor - Juan Ruiz, Arcebispo de Hita, (1283-1350) - relata o triste destino do filho do rei mouro Alcaraz. Nosso destino é regido pela posição das estrelas, nos diz ele, e para provar sua afirmação conta esta história nas estrofes 129-139 de sua obra.
Quando seu filho nasceu, este rei chamou cinco astrólogos para levantar o horóscopo do menino. "Morrerá apedrejado", disse um deles; "há de ser queimado", afirmou outro; "o menino será jogado num penhasco", sentenciou o terceiro; "o infante será enforcado", disse o quarto; "morrerá afogado", prognosticou o último. Diante de previsões tão contraditórias, o rei considerou seus astrólogos impostores e mandou encarcerá-los.
Alguns anos mais tarde, quando o menino alcançou a juventude, o rei lhe deu permissão para ir caçar veados com seu tutor e correr nas montanhas. De imediato desabou uma tempestade e começou a cair granizos. O tutor, lembrando-se das profecias, tratou de buscar abrigo para o jovem, mas não conseguiu evitar o desígnio de Deus:
ao passar pela ponte um grande relâmpago o atingiu,
a ponte se quebrou, por ali ele despencou;
em uma árvore do rio suas vestes se prenderam.
Enforcado assim, todos o viram,
afogar-se na água; socorrê-lo não puderam;
os cinco fados preditos todos se cumpriram.
Reconhecendo a precisão dos juízos dos astrólogos, o rei ordenou que fossem liberados e pudessem continuar a exercer o seu ofício, que tão certeiro provaram ser.
A história é introduzida com uma reflexão sobre a validade da astrologia, citando a autoridade de Ptolomeu e Platão:
Observaram em suas astrologias esta lei universal
Que os planetas atraem sobre as vidas dos homens alguma influência oculta,
Que desde o berço os varre como a corrente varre um canudo.
Enquanto muitos mestres instruídos agora partilham esta opinião;
Na verdade, parece que quando se nasce sob alguma estrela em ascensão
Ela governa sua vida e sua fortuna fará ou estragará.
Mas depois de demonstrar, por meio do exemplo do filho do rei Alcaraz, como um horóscopo tira conclusões precisas sobre o futuro de uma pessoa, o Arcebispo refuta o determinismo astral:
mas Deus que criou a natureza e o acidente,
pode alterá-los, e fazer outros:
de acordo com a fé católica, assim acredito.
Portanto, a onipotência divina está acima das estrelas. Deus criou os céus e seus corpos celestes e, portanto, podem ser interpretados como símbolos da vontade divina, embora o Criador tenha reservado o direito de intervir sempre que assim o desejar. Assim, o homem tem a possibilidade de obter proteção divina contra a predeterminação astral.
Fonte:
Libro de buen amor, Biblioteca Virtual Cervantes, http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/el-libro-de-buen-amor--0/html/
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