Críticos e adversários da astrologia na Antigüidade
As críticas e objeções que se fazem à astrologia são quase tão antigas quanto a própria “ciência dos astros”. Muitas delas permanecem sem resposta e continuam a embaraçar os astrólogos até hoje. Conheça algumas dessas críticas.
- Ennius (Séc. III a. C.), poeta latino, falava com desdém do “circo dos astrólogos” que – da mesma forma que os modernos negociantes de horóscopos em feiras – montavam suas barracas perto das arenas para conseguir clientes entre a multidão que ia aos jogos de circo.
- Carnéades (219-125 a. C.), filósofo grego, foi o primeiro a formular dois argumentos contra a crença no determinismo astrológico, que seriam retomados frequentemente ao longo do tempo:
- Como explicar que dois gêmeos nascidos na mesma hora possam ter destinos diferentes um do outro?
- Os mortos em uma catástrofe (terremoto ou batalha, por exemplo) tiveram um fim trágico no mesmo instante, mas nasceram na maioria dos casos sob signos diferentes.
Explique se puder…
- Cornélius Hispallus, pretor romano, tentou proscrever os astrólogos em 139 a.C. através de decreto, sem sucesso. Não só a tentativa de expulsá-los da Itália fracassou, como também surtiu efeito contrário: os astrólogos tornaram-se mártires, estimulando ainda mais a curiosidade popular e consagrando-se como confidentes de todos as pessoas ambiciosas.
- Cícero (106-46 a. C.), foi um dos mais célebres adversários dos astrólogos, embora tenha estudado a astrologia oriental na sua juventude. Na obra De Divinatione, criticou a crença nos horóscopos e presságios, mas ele mesmo era um augure (adivinho). Afirmava não compreender como dois áugures pudessem olhar um para o outro sem rir.
- Juvenal (65-128 d.C.), poeta satírico latino, elegeu os astrólogos como alvo de suas mordazes sátiras, criticando a procura dos clientes ingênuos aos adivinhos. Observou que os astrólogos tinham mais crédito quanto mais perseguições sofriam, pois em muitas ocasiões os romanos os responsabilizavam pelas suas predições, castigando-os com o exílio, o cárcere ou a morte se estas não se cumprissem. Entre as mulheres, especialmente, foi onde os astrólogos adquiriram mais crédito. A respeito da curiosidade feminina pelos oráculos disse Juvenal:
“Tudo quanto lhes prediz um astrólogo parece ter saído do templo de Júpiter. Afasta-te da que está sempre folheando as efemérides, da que já é tão forte em astrologia que nem as consulta e sim é consultada, e da que consultando os astros, não quer acompanhar o seu esposo no exército ou à sua terra natal. Quer ir a uma légua da sua casa? Há de certificar-se da hora propícia em seu livro de astrologia.Arde-lhe o olho por tê-lo esfregado? Não há melhor remédio do que o indicado pelo dito livro. Está doente, de cama? Não tomar alimento senão nas horas marcadas em seu Petosiris. As senhoras de condição média antes de consultar o destino, dão volta ao círculo e depois entregam suas mãos e seu rosto ao adivinho.”
- Favorinus (Séc. II, morto em 135), filósofo e retórico romano, célebre pela sua irreverência, ridicularizou os astrólogos, pedindo-lhes o horóscopo de rãs e mosquitos.
- Clemente de Alexandria (aproxim. 160-220), doutor da Igreja e um dos mais célebres apologistas cristãos, denunciou a crença nos horóscopos como “um crime contra a Providência”.
- Sexto Empírico (Séc. III), filósofo, astrônomo e médico grego, notável pelo ceticismo, riu do embaraço de um suposto astrólogo diante de um asno e um homem nascidos no mesmo momento e destinados, um ao moinho, outro a uma existência humana.
- Em 357 o imperador Constantino proibiu a consulta aos astrólogos e a prática da astrologia, sob pena de morte. No ano seguinte, determinou que os astrólogos não estivessem isentos da pena mesmo que fossem pessoas a quem se tivessem concedido honras. Mas, apesar disso, o imperador conservou o manto da coroação com o Zodíaco e mandou fazer o horóscopo da sua capital, Constantinopla.
- Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona, condenou a astrologia e tentou mostrar o absurdo das crenças astrológicas. Acreditara na astrologia na juventude, mas tornou-se cético em relação a ela quando soube que um rico proprietário e um pobre escravo que trabalhava nas suas terras haviam nascido no mesmo instante e no mesmo local. Tinham, portanto, o mesmo horóscopo… Além disso, fazia objeções de natureza teológica: “os astrólogos inocentam o homem de qualquer erro – homem de carne, de sangue, de orgulhosa corrupção – e atribuem-no ao Criador, que rege os céus e os astros…” (Confissões, VIII, VI)